A morte e a vida de Ivan Ilitch - Lev Tolstói

Minha primeira leitura de Tolstói e, sinceramente, não sei porque demorei tanto para ler uma de suas obras. Eu sabia que seria uma leitura intensa, me preparei para isso, mas foi muito mais do que isso, ultrapassou tudo o que eu esperava.

Morte é um assunto pesado, todo mundo corre desse assunto. Tolstói contrariou a todos e escreveu, de forma brilhante, sobre a morte de Ivan Ilitch. Foi tão ousado que nos deparamos com o falecido na primeira página.

Tolstói narra de forma tocante a jornada de sofrimento do burocrata Ivan Ilitch Golovin um sujeito que não soube viver e morrer, mas tentou encontrar respostas para a morte durante o longo processo de agonia que enfrentou. É uma visão profunda, dolorosa e real sobre a morte.

“A história narra a vida de Ivan Ilitch foi das mais simples, das mais comuns e portanto das mais terríveis.”

A morte de Ivan Ilitch, o fim cronológico da história, ocorre no primeiro capítulo, já na primeira página, sendo comentada pelos “amigos” e colegas de trabalho. A morte de Ivan na verdade era apenas um detalhe, seus falsos amigos e colegas de trabalho discutiam vagas, promoções em razão do falecimento de uma peça da engrenagem (Ilitch).

“Ao ouvirem a notícia da morte de Ivan Ilitch, a primeira coisa que lhes passou pela cabeça foi o possível efeito na rodada de transferências e promoções para eles ou seus companheiros.”

E é com esse tapa na cara que Tolstói percorre inicialmente esse mundo de homens destituídos de mínima afeto e movidos a interesses, apertos de mãos com segundas e terceiras intenções. O restante do romance, ou novela, é dedicado não à morte de Ivan, mas à sua vida. E a narrativa fica cada vez mais intensa.

Ivan Ilitch é um prestigiado juiz da alta corte Russa, cuja vida foi recheada de dramas familiares, causados tanto pela sua amarga e esposa Prascóvia Fiodoróvna, quanto por Lisa, sua amada filha que acaba tendo sua personalidade conturbada como a da mãe.

“A Morte de Ivan Ilitch” é uma reflexão sobre a vida e a morte. Um assunto pesado e que não desperta o interesse de ninguém, mas Tostói escreve com uma sinceridade incrível e nos coloca diante do sofrimento de Ivan Ilitch de forma esplêndida. A dor de Ilitch é quase paupável e sentimos medo e angústia junto com ele.

“Ora, não é uma questão de apêndice ou rim, mas de vida… ou de morte. Sim. Havia vida, e agora ela está indo embora, esvaindo-se, e eu nã tenho condições de detê-la.”

É um livro curto, poderia ser lido em uma tarde. Mas é profundo, merece ser sido de forma pausada para que os momentos de reflexão sejam bem aproveitados. Por mais que todo mundo queira correr da morte, é impossível - a morte chega para todos. Para Ilitch chegou com muito tormento.

“E assim ele tinha de viver, à beira do precipício, sozinho, sem uma alma que o entendesse e dele tivesse compaixão.”

Narrado em terceira pessoa, a narrativa é rica em detalhes. A história tem um aprofundamento incrível na mente de Ilitch e é possível sentir toda a agonia e tristeza que o personagem vai aos poucos sentindo devido à doença - que não é diagnosticada efetivamente. É um mergulho na vida do personagem e em suas aflições.

Ler sobre a morte nos possibilita um olhar para dentro, uma análise dos nossos dias, uma reflexão de novas formas de sentido. É um momento para pensar: será que estou aproveitando meus dias?

“A Morte de Ivan Ilitch” é um convite à vida! A morte chega um dia, é verdade. Mas a vida é grandiosa e precisamos viver com leveza, com simplicidade e, acima de tudo, com sinceridade. A vida é uma só e não dá para viver para agradar os outros. Ilitch teve uma morte triste e solitária porque perdeu sua vida pensando em agradar os outros.

“Chorou por sua solidão, seu desamparo, pela crueldade do ser humano, a crueldade de Deus e a ausência de Deus.”

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Lev Tolstói no decorrer de sua longa vida (1828-1910) foi escritor e pensador de romances, novelas, contos, narrativas, teatro e histórias para crianças, bem como de ensaios sobre religião, arte, política, filosofia, moral e história.

Entre suas obras, as mais conhecidas são Guerra e Paz e Anna Kariênina. Já a novela A morte de Ivan Ilitch é considerada por muitos críticos a maior da literatura mundial.