Flores para Algernon
Flores para Algernon — um livro marcante que marcou a carreira de Daniel Keyes que foi ganhador do prêmio Hugo (um dos mais prestigiados prêmios de ficção científica) e Nebula (é um galardão concedido anualmente pelo Science Fiction and Fantasy Writers of America (SFWA), para os melhores trabalhos de ficção científica/fantasia publicados nos Estados Unidos).
Keyes teve a inspiração para essa história na época em que escrevia roteiros de quadrinhos para Stan Lee, mas quis desenvolvê-la um pouco mais, transformando-a, primeiramente, em conto. A história foi publicada inicialmente em 1959 na forma de um conto e em 1966 como um romance.
Emocionante e profundo, Flores para Algernon é uma obra ainda contemporânea e é adotada como leitura obrigatórias em muitas escolas americanas. Ao longo do tempo acabou gerando adaptações como a peça de um musical da Broadway (Charlie and Algernon, 1978) e o filme Charly, de 1968 — que rendeu a Cliff Robertson o Oscar de Melhor Ator.
Está mais que confirmado que o livro merece prestígio!
O livro é narrado em primeira pessoa como uma espécie de diário no qual Charlie Gordon, o protagonista, descreve seu dia a dia em forma de “relatório de progresso” (os primeiros são cheios de erros ortográficos) e suas transformações ao realizar uma cirurgia inovadora destinada a aumentar a capacidade cognitiva de um homem com sérias limitações intelectuais.
Charlie é um homem de 32 anos com QI de 68. Ele trabalha em uma padaria como menino faz tudo e estuda em uma escola para homens retardados. Apesar do QI baixo, o grande sonho de Charlie é ser inteligente.
“Se você é intelijente você podi ter muitos amigos pra conversar e você nunca fica solitário sosinho o tempo todo.”
Sofrendo bullying em todos os lugares, Charlie preserva um bom coração e é escolhido para participar de uma cirurgia capaz de torná-lo um gênio — o primeiro ser humano a fazer tal cirurgia.
Sua professora, Kinnian, que tem um papel importante nessa história, o incentiva, e Charlie acaba aceitando fazer o procedimento, mesmo não sabendo exatamente quais serão as consequências.
“[…] a professora Kinnian insisstiu muito pra mim ser avaliado porque eu era o melhor aluno dela no Instituto Beekman pra adultos retardados e eu fiz o melhor que pudia porque eu quero ser uma peçoa menos inbesil e aprender e eu inclusive quero mais que os colegas que sabem mais do que eu.”
Charlie passa por vários testes até fazer a cirurgia. Nas idas ao laboratório, ele conhece Algernon, o rato de laboratório que fez a mesma cirurgia que Charlie estava se preparando para fazer.
“Burt pegou um rato branco de uma jaula e mi mostrou. Burt disse esse daqui é o Algernon e ele pode fazer o quebra cabessas du labirinto muito certo. Eu disse pra ele nossa mi mostra como é que ele fas […]
Noça eu disse quirrato esperto.”
Abandonado pela família, os pesquisadores vão atrás de algum membro familiar para a autorização da cirurgia e é Norma, irmã de Charlie, que dá a autorização, mesmo com todos os riscos.
“Daí o dotor Strauss disse Charlie mesmo que isso falie você estará fasendo uma imença contribuição a ciênsia.”
Finalmente Charlie passa pela tão esperada cirugia e, com o aparente sucesso, ele aprende a escrever e ler, mudando progressivamente a forma como ele narra seus relatórios. E, depois de pouco tempo, enfim passa a ser mais inteligente que todos ao seu redor.
Charlie começa a lembrar do passado e a ver os acontecimentos com outros olhos e percebe que as pessoas não eram suas amigas e apenas o usavam para rir dele ou se sentirem melhor consigo mesmas.
“Eu nunca soube antes que Joe e Frank e os outros só gostavam de mim por perto para rir de mim.”
Além das lembranças do passado, Charlie esbarra em outra barreira. Antes, retardado, as pessoas riam dele; agora, inteligente, as pessoas se sentem desconfortáveis com ele.
“Estava tudo bem enquanto eles pudessem rir de mim e parecer inteligentes à minha custa, mas agora eles se sentiam inferiores ao imbecil. Comecei a ver que, por meio do meu surpreendente crescimento, eu os fiz encolher e enfatizei suas inadequações. Eu os havia traído, e eles me odiavam por isso.”
A história vai se desenrolando com a evolução de Charlie e suas lembranças; é uma obra com muitos gatilhos e que nos envolve a ponto de querer conhecer o Charlie e nos dá socos no estômago com as cenas de agressão e violência, bullying, alucinações e outras coisas.
O livro nos faz refletir sobre a vida e a ter empatia pelo próximo, a nos confrontar conforme nosso próprio benefício em cima dos outros, a pensar em diferentes realidades. O livro nos coloca de frente a alguém com alguma deficiência intelectual e nos faz refletir sobre o capacitismo, sobre as exclusões que a sociedade faz e o quanto julgamos o outro.
Um livro para ler com um lenço do lado. Charlie nos faz olhar para dentro e termina seu relatório de progresso mandando flores para Algernon. Eu termino mandando flores para Charlie e para todas as pessoas que terão um encontro ao ler esse livro.
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Daniel Keyes nasceu no Brooklyn em Nova York, é autor de oito livros, incluindo o clássico Flores para Algernon. Trabalhou como marinheiro, editor de ficção, foi professor do ensino médio e universitário na Universidade de Ohio, onde foi homenageado como Professor Emérito em 2000.