Dom Casmurro - Machado de Assis

“Capitu traiu ou não o Bentinho?” — Essa, talvez, seja a pergunta mais frequente sobre a obra de Machado de Assis. A resposta para esta questão paira no clássico da literatura brasileira.

Dom Casmurro conta a história de Bento Santiago, ou Bentinho, ou ainda, Dom Casmurro, um homem mais velho que decide contar aos leitores a sua história e memórias desde a infância e juventude até a velhice.

A obra começa com o narrador já velho, em um trem da Central. Ali, ele conhece um jovem poeta, que acaba recitando alguns versos. Mas pelo fato de o narrador fechar os olhos “três ou quatro vezes”, o rapaz se ofende e lhe dá o apelido de Dom Casmurro. O narrador, então, decide dar esse título — que a princípio seria provisório, para o seu livro.

“Também não achei melhor título para a minha narração; se não tiver outro daqui até ao fim do livro, vai este mesmo”.

Escrito em primeira pessoa, a obra apresenta 148 capítulos. Embora o número seja volumoso, os capítulos são curtos e com uma linguagem de fácil entendimento. O narrador/protagonista vai contanto sua histórias como se estivesse lembrando dela gradualmente. É como ler uma história em porções.

A trama começa em 1857, quando Bento Santiago tem quinze anos e Capitolina, ou Capitu, catorze. Na obra, o tempo da narrativa mistura presente (quando Santiago escreve a obra) e passado. O enredo tem lugar no Rio de Janeiro de meados do século XIX. Sede do império desde a Independência em 1822, a cidade assistia à ascensão da burguesia carioca.

Bentinho começa a descrever sua história desde a infância e a intenção de sua mãe, Dona Glória, de enviá-lo a um seminário para ele se tornar padre — mesmo Bentinho não nutrindo nenhuma vocação religiosa e estando apaixonado por sua amiga, Capitu.

Embora tenha tentado inverter a situação, Bento acaba indo para o seminário, no entanto, antes dá um beijo em Capitu e promete casar-se com ela. No seminário, Bentinho conhece Ezequiel de Sousa Escobar — que também não tem vocação religiosa, e os dois tornam-se melhores amigos.

É Escobar quem tem a ideia a ideia que permitirá que Bentinho abandone o seminário. Para ocupar o lugar de Bentinho, D. Glória deve escolher um rapaz órfão e fazer dele padre. Assim, ela não quebra a promessa feita e deixa o filho livre para, um dia, se casar. Desse modo, o protagonista sai do seminário, estuda Direito e, com 22 anos, é um bacharel. Em seguida, ele e Capitu se casam.

O primeiro problema a perturbar a aparente alegria dos dois é a ausência de filhos. Bentinho quer ser pai; porém, Capitu não consegue engravidar.

Eles são grandes amigos do casal Escobar e Sancha, que têm uma filha, cujo nome também é Capitolina, em homenagem à esposa de Bentinho. Para diferenciar uma da outra, a menina é chamada, carinhosamente, de Capituzinha. Quando, finalmente, Capitu fica grávida e nasce o filho de Bentinho, eles retribuem a homenagem e batizam o menino com o nome de Ezequiel.

Aparentemente, os dois vão ser felizes para sempre, mas, então, Escobar morre afogado. Durante o velório do amigo, o sofrimento de Capitu faz com que Bentinho, pela primeira vez, desconfie que a esposa tinha um caso com seu melhor amigo.

“Enfim, chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha quis despedir-se do marido, e o desespero daquele lance consternou a todos. Muitos homens choravam também, as mulheres todas. Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si mesma. Consolava a outra, queria arrancá-la dali. A confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas…

As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as dela; Capitu enxugou-as depressa, olhando a furto para a gente que estava na sala. Redobrou de carícias para a amiga, e quis levá-la; mas o cadáver parece que a retinha também. Momento houve em que os olhos de Capitu fitaram o defunto, quais os da viúva, sem o pranto nem palavras desta, mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã.”

A partir daí, a vida do casal se torna um caos. O ciumento Bentinho logo começa a perceber que seu filho Ezequiel se parece bastante com Escobar. Então, adquire a certeza de que o menino não é seu filho, mas do defunto. E seu desespero é tão grande que, em uma ocasião, ele está prestes a se matar com um café envenenado, quando o filho entra em seu gabinete.

“Se eu não olhasse para Ezequiel, é provável que não estivesse aqui escrevendo este livro, porque o meu primeiro ímpeto foi correr ao café e bebê-lo. Cheguei a pegar na xícara, mas o pequeno beijava-me a mão, como de costume, e a vista dele, como o gesto, deu-me outro impulso que me custa dizer aqui; mas vá lá, diga-se tudo. Chamem-me embora assassino; não serei eu que os desdiga ou contradiga; o meu segundo impulso foi criminoso. Inclinei-me e perguntei a Ezequiel se já tomara café.”

Bentinho estava tão atordoado que pensou na possibilidade de matar o filho, mas logo desiste. Capitu entra no gabinete e ele diz que Ezequiel não é seu filho. Diante das acusações, ela nega. Entretanto, não há mais como salvar aquele casamento. Assim, Bentinho resolve mandar Capitu e Ezequiel para a Europa, de forma a manter as aparências.

Capitu escreve cartas afetuosas para Bentinho, que responde com sequidão.

“Ao cabo de alguns meses, Capitu começara a escrever-me cartas, a que respondi com brevidade e sequidão. As dela eram submissas, sem ódio, acaso afetuosas, e para o fim saudosas; pedia-me que a fosse ver. Embarquei um ano depois, mas não a procurei, e repeti a viagem com o mesmo resultado. Na volta, os que se lembravam dela, queriam notícias, e eu dava-lhes, como se acabasse de viver com ela; naturalmente as viagens eram feitas com o intuito de simular isto mesmo, e enganar a opinião. Um dia, finalmente…”

Capitu morre no exterior e Ezequiel tenta reatar relações com ele, mas a semelhança extrema com Escobar faz com que Bento Santiago continue rejeitando-o. Ezequiel acaba por morrer de febre tifóide durante uma pesquisa arqueológica.

Após a morte de todos da sua família, Dom Casmurro envelhece solitário, amargurado e carrancudo.

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Dom Casmurro é um clássico de Joaquim Maria Machado de Assis, ou Machado de Assis, que nasceu em 21 de junho de 1839 e faleceu em 29 de setembro de 1908. O escritor é o principal representante do realismo brasileiro , além de ser um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.

“Dom Casmurro” é uma de suas obras mais conhecidas e a leitura é envolvente e intrigante, cheia de certezas e dúvidas. A forma como Machado de Assis criou Bentinho, que descreve os acontecimentos, é como se conversasse com a gente e tecesse comentários enquanto lembra dos fatos. Sem dúvidas é uma obra muito agradável de ler.