Orgulho e preconceito - Jane Austen

Publicado pela primeira vez em 1813, Orgulho e Preconceito é um dos romances mais célebres da literatura inglesa e uma das obras-primas de Jane Austen. A trama gira em torno da vida da espirituosa Elizabeth Bennet e de sua complicada relação com o reservado e orgulhoso Sr. Darcy. Ambientado na Inglaterra rural do século XIX, o romance combina crítica social, romance e ironia em um retrato afiado da sociedade britânica de sua época.

Elizabeth Bennet, a segunda de cinco irmãs, é uma jovem inteligente, perspicaz e determinada a seguir seus princípios, mesmo quando confrontada com as convenções sociais que esperam das mulheres apenas submissão e bons casamentos. O Sr. Darcy, por sua vez, representa a aristocracia inglesa com seu comportamento contido, sua rigidez e sua consciência de classe.

Austen constrói seu romance sobre dois eixos centrais: o orgulho de Darcy e o preconceito de Elizabeth. A autora explora como esses traços distorcem suas percepções mútuas e atrasam o reconhecimento de seus verdadeiros sentimentos. Darcy, ao declarar seu amor por Elizabeth, o faz de maneira abrupta e altiva, revelando a luta interna que travou para vencer as barreiras impostas pela classe social:

“Em vão. De nada adianta. Meus sentimentos se recusam a se deixar dominar. A senhorita deve me permitir lhe dizer quanto a admiro e a amo ardentemente.”

Já Elizabeth, inicialmente cega ao caráter de Darcy devido à sua aparência orgulhosa e à influência de más impressões, só aos poucos vai percebendo a profundidade de seus sentimentos e de sua integridade. A obra critica, com elegância, as falsas virtudes, a hipocrisia social e o egoísmo disfarçado de prudência:

“Não tente, pelo bem de um indivíduo, mudar o significado de princípio e integridade, nem persuadir a si mesma ou a mim de que egoísmo é prudência, ou de que a ignorância do perigo garante felicidade.”

Austen também satiriza as exigências impostas às mulheres, revelando o quanto se esperava delas um conjunto quase inatingível de qualidades para que fossem consideradas “realmente” educadas ou valiosas:

“Uma mulher deve ter um conhecimento profundo de música, canto, desenho, dança e línguas modernas para merecer essa palavra, e, além de tudo isso, possuir algo em sua apresentação e maneira de andar, no tom de voz, no modo de se dirigir a alguém e de se expressar, ou a palavra não será inteiramente merecida.”

Mas a beleza da narrativa de Austen está não só na crítica, mas na esperança. Ela mostra que, com maturidade emocional, é possível rever julgamentos e crescer. A evolução de Darcy e Elizabeth prova que o amor verdadeiro exige humildade, reflexão e coragem — como quando Elizabeth reconhece que podemos aprender a amar mesmo contra as expectativas:

“Todos nós podemos começar a gostar de alguém por vontade própria, uma vez que uma pequena predileção é bem natural, mas poucos têm um coração forte o bastante para se apaixonar de verdade sem encorajamento.”

Por fim, Austen lembra que mesmo em tempos de dificuldades, é possível buscar conforto nas lembranças felizes:

“O senhor precisa aprender um pouco da minha filosofia: só pense nas lembranças passadas que lhe dão prazer.”

Orgulho e Preconceito é, portanto, um romance que atravessa os séculos com sua mensagem de superação pessoal, crítica à superficialidade social e valorização da autenticidade nos sentimentos. Leitura indispensável para quem aprecia personagens fortes, diálogos inteligentes e uma visão aguda das relações humanas.

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Jane Austen foi uma escritora inglesa nascida em 16 de dezembro de 1775, em Steventon, Hampshire. Vinda de uma família culta da pequena nobreza rural, teve acesso à educação e começou a escrever ainda jovem. Com um olhar crítico e sensível, destacou-se por retratar, com ironia e elegância, os costumes e as limitações sociais da Inglaterra do século XIX, especialmente as dificuldades enfrentadas pelas mulheres. Seus romances mais conhecidos — Razão e SensibilidadeOrgulho e PreconceitoMansfield Park e Emma — foram publicados anonimamente durante sua vida.

Jane nunca se casou e viveu cercada pela família, escrevendo até o fim da vida. Faleceu aos 41 anos, em 18 de julho de 1817, em Winchester, provavelmente vítima da doença de Addison. Após sua morte, suas obras continuaram a ganhar reconhecimento, tornando-se clássicos da literatura mundial. Austen é hoje celebrada por sua prosa refinada, personagens femininas marcantes e pela crítica social sutil, que permanece atual mesmo dois séculos depois.