Passarinha - Kathryn Erskine

Passarinha - Kathryn Erskine

Se você pensou que criar uma história cativante e emocionante, contada a partir de uma personagem com Síndrome de Asperger, é difícil; pensou errado. Passarinha quebra todas as barreiras e nos leva em uma viagem de forma fluida e envolvente.

Kathryn Erskine aborda a compreensão de uns pelos outros com uma história tocante. Na obra, somos convidados a mergulhar na mente de uma criança em um dos momentos mais delicados da sua vida. Da mesma forma com que a protagonista tenta descobrir como as pessoas em volta dela lidam com a morte, nós, leitores, vamos, aos poucos, compreendendo como é ver um mundo tão literal. A troca é surreal!

A obra já começa tirando o nosso chão: Devon morreu e Caitlin, nossa doce personagem principal, não entende que nunca mais poderá vê-lo. Entretanto, a estranheza em não ter mais a figura do irmão a deixa confusa e a faz buscar um Desfecho (escrito assim mesmo, com letra maiúscula). Inicia-se então a longa jornada de Caitlin em busca do seu Desfecho: as etapas desse processo são lentas, a passos de tartaruga, mas é exatamente dessa lentidão que Caitlin precisa.

É uma leitura intensa. O texto quase não tem pausa, virgulas. É realmente uma criança narrando, que fala sem parar! Mas não é uma criança comum. O modo literal de ver o mundo, tudo preto no branco, torna o seu olhar especial. É incrível como a escritora conseguiu retratar uma trama pesada (lidar com a morte) sobre a perspectiva de uma criança com Asperger. Ao mesmo tempo em que é duro e que nos faz chorar; é de uma sutileza impressionante.

Caitlin não tem amigos da sua idade, odeia fazer contato visual com outras pessoas e diz as coisas exatamente como surgem na sua cabeça, sem perceber que os outros podem considerá-la rude, estranha ou mal educada por isso. Na maioria das vezes ela não consegue nem mesmo captar o sentido do que os outros estão dizendo, ou explicar o sentido do que ela está dizendo. A menina sofre com a falta de seu irmão, que a ajudava em tudo - principalmente em sua forma de lidar com o resto do mundo.

“Fico olhando para o armário de Devon porque me faz sentir como se um pedacinho dele ainda estivesse aqui. Mesmo sabendo que ele nunca mais vai poder me ensinar a fazer um armário. Que nunca mais vai poder me ensinar nada. Que nunca mais vou vê-lo de novo nem nunca mais vou poder olhar para ele e dizer, Obrigada."

A história se desenvolve rapidamente, já que o livro é consideravelmente curto, no entanto, em momento algum, deixa escapar qualquer emoção ou questão. É uma história que envolve muitas questões, como a perda, o luto, a dor, as lembranças que ficam de quem amamos, as descobertas de uma menina inocente e questionadora que vê o mundo em preto e branco.

“Eu gosto das coisas em preto e branco. Preto e branco é mais fácil de entender. Cor demais confunde a cabeça da gente.”

Outra palavra que vai permear a leitura é empatia, tanto na história quanto da parte de quem lê, afinal para o que a maioria é simples, para Caitlin é o maior dos desafios: se relacionar com outras pessoas. E com a trama se passando predominantemente dentro de uma escola, todos os principais dramas e conflitos da menina acontecem ali, onde ela está constantemente rodeada de pessoas.

“Embora eu não achasse que iria gostar da empatia ela é uma coisa assim que chega sem avisar e faz você sentir um calorzinho gostoso no Coração. Acho que não quero voltar para uma vida sem empatia.”

A empatia que é criada por Caitlin abala e envolve quem lê e, de página em página, numa busca voraz de ver pelos olhos da menina, somos conduzidos por uma história brilhante. Caitlin consegue superar o momento difícil com maestria e nos faz refletir e compreender que as pessoas são diferentes - e não tem nada de errado nisso.

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Nascida na Holanda (e morando em diversos lugares do mundo como: Israel, África do Sul, Escócia e Canadá, até chegar à Virginia, Estados Unidos, onde mora hoje com o marido e os dois filhos) Kathryn começou a vida profissional como advogada, antes de se dar conta de que o que ela queria mesmo fazer era outra coisa: escrever. Desde então ela vive dando palestras e escrevendo seus livros.

Passarinha  foi inspirado no massacre da Virginia Tech University em 2002, onde 33 pessoas foram mortas. Além disso, a filha da autora tem Aspeger. Foi daí que surgiu a ideia para a personagem principal do livro, Caitlin, e no processo de construção a Kathryn entrevistou diversas pessoas afetadas pela síndrome.